CARTA ABERTA -10 ANOS DA HOPE
- Editorial Hope

- 1 de out.
- 3 min de leitura

Oi gente, aqui é a Jéssica.
Este ano não tem sido fácil. Em 11 de agosto perdi meu pai, e em 20 de setembro perdi minha avó. Foram dois tombos em sequência, que ainda doem no peito e me lembram todos os dias de como a vida é frágil. Confesso que não estou no clima de festas ou comemorações, mas ao olhar para trás, vejo que não poderia deixar passar em branco este marco: os 10 anos da Hope.
Uma década não é apenas um número.
É resistência, é luta diária, é renúncia, é acreditar quando parecia impossível. É se manter de pé em um mercado que, quase sempre, não abre espaço para os pequenos. A Hope nasceu da minha esperança e, se chegamos até aqui, foi porque nunca desistimos dela.
Desde o início, nossa essência foi clara: a Hope nunca foi uma editora de elite.
Nunca quis ser a casa dos que podem pagar mais, nunca foi sobre dinheiro ou vaidade. Nosso propósito sempre foi abrir portas para aqueles que, muitas vezes, ouviram que o sonho de publicar era grande demais para o bolso deles. Parcelamos em 12 vezes no boleto, buscamos soluções criativas em pequenas tiragens, trabalhamos com impressões sob demanda. Porque o sonho de ser autor não deveria depender de quem investe mais, de quem compra divulgação, de quem paga avaliações em troca de prêmios ou pix.
O sonho deveria ser acessível e é por isso que lutamos até hoje.
É claro que não foram apenas flores nesse caminho. O mercado editorial brasileiro é cruel. Os livros são caros, mas não porque precisam ser caros. Grandes editoras imprimem em escala de milhares, gastam menos de R$6 por exemplar, e ainda assim têm coragem de vender a R$80, tornando a literatura cada vez mais inacessível. As Bienais, que deveriam ser festas populares do livro, são caras e elitistas: só o espaço mais simples passa de R$25 mil, sem contar taxas, equipamentos, logística. E ainda se cobra R$40 na entrada, mais estacionamento.
Quem ganha com isso? Com certeza não é o leitor, nem o autor iniciante, nem o pequeno editor.
Em 10 anos de Hope, aprendi muito.
Aprendi que nem todos os que se dizem parceiros realmente o são.
Aprendi que há maus prestadores de serviço, maus autores, maus profissionais. Aprendi que, muitas vezes, aquilo que se vê nas redes sociais é apenas encenação — porque existem personagens fora dos livros também.
Mas também aprendi que ainda existe muita beleza nesse caminho.
Que há autores que somam, que há livros que voam das prateleiras e se esgotam.
Que já publicamos mais de 500 obras nesses anos e que cada uma delas carrega um pedaço de sonho que se transformou em realidade.
Aprendi que, mesmo em meio a tantas dificuldades, a esperança que dá nome à nossa editora continua viva e é ela que me sustenta.
Houve momentos em que pensei em desistir, sim.
Joguei mentalmente tudo para o alto mais de uma vez. Mas sempre me perguntei: se eu desistir, quantos sonhos vão deixar de existir também? Quantos livros nunca sairão da gaveta? Quantas vozes vão se calar por falta de espaço? E foi assim, me agarrando a essa missão, que seguimos.
Hoje, ao completar 10 anos, olho para trás com gratidão e, ao mesmo tempo, com senso de luta.
Não é só uma década de Hope. É uma década de acreditar que a literatura pode e deve ser para todos.
É uma década de enfrentar um sistema que insiste em elitizar a leitura, mas que não consegue apagar a força dos que resistem.
Se nesses 10 anos a Hope fez parte da sua vida, se foi a ponte para que seu sonho se tornasse livro, se te deu força para continuar acreditando, quero dizer: obrigada. De coração.
Porque cada autor, cada leitor, cada parceria verdadeira foi essencial para que chegássemos até aqui.
E que venham mais anos, mais histórias e mais sonhos transformados em páginas. Porque enquanto houver esperança, haverá livros.
E enquanto houver livros, haverá a Hope.
Com carinho e resistência,
Jéssica Milato



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