Por: Rafael Dias
O despertador tocou na segunda-feira, era manhã de inverno e o clima estava propício para continuar na cama. Busquei motivação para sair dos lençóis, mas eles me abraçavam de forma aconchegante, mas lembrei das contas que tinha que pagar e da responsabilidade com meu emprego, então levantei com força, como se estivesse saindo de uma areia movediça.
O caminho para o banheiro nunca foi tão longo, carregava uma tristeza na alma e também um choro na garganta não chorado, frutos de sofrimentos interiores que não tinha ninguém para desabafar. A consciência dizia: “Anda logo, você vai se atrasar!” e o emocional respondia:
“Para que trabalhar tanto? Jogue tudo para o alto!"
Neste conflito de pensamentos e sensações coloquei as mãos na pia e olhei para o ralo tentando encontrar a motivação que precisava, mas não melhorou o vazio. Tirei as roupas ainda olhando para baixo e com dificuldade encarei o meu reflexo e resolvi olhar nos meus olhos, foi aí que algo novo queimou na minha alma.
Fazia tempo que não me olhava profundamente, estive tão ocupado com a rotina que esqueci de me olhar, percebi as marcas do tempo e quantas histórias minha fisionomia contava, lembrei da minha família e dos ancestrais, lembrei dos sorrisos nas rugas, lembrei às vezes em que deixei de cuidar de mim para agradar.
Percebi o quanto era bonito e também que precisava dormir mais para tirar a expressão de cansaço. Percebi que precisava fazer a barba e também ir ao dentista. Aquele rosto que me olhava precisava de atenção, gritava e pedia autocuidado e me dizia:
“Continue, você está vivo, então viva!”.
Foi aí que entendi que meu reflexo era Sagrado.
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